No último post nos falamos um pouco sobre o princípio de Premack, uma ferramenta que pode nos ajudar a transformar vários elementos da vida de nossos cães em reforços para o treinamento. Vocês devem ter notado que o princípio de Premack funciona de forma muito parecida com o reforço positivo. O animal faz alguma coisa que gostamos e algo que ele gosta acontece (petiscos, oportunidade de nadar, etc.).
Na verdade, na verdade, existe toda uma discussão chata na comunidade científica sobre os limites desse princípio e como devemos usar apenas o reforço positivo para fazer nossas análises. Para os nossos intuitos é só um monte de blablablá. No entanto, eu vejo uma grande vantagem e uma mudança de olhar muito grande quando as pessoas discutem nos termos do princípio de Premack.
Ele nos convida a prestar atenção em nossos cães e no que eles já fazem.
O seu cão gosta de jogar bolinha? Nadar? Perseguir esquilos? Latir para os gatos em cima do muro? Cheirar os gramados durante o passeio? Então vamos usar todas essas coisas para treiná-lo!
Mas, como aplicar Premack na prática?
Quando vamos treinar nossos cães com petiscos o princípio é que nossos cães só irão ganhar quando tiverem um acerto. Não há acesso aos petiscos enquanto o cão não acerta. E esse é o grande problema das distrações nos treinos, geralmente, nós não conseguimos controlar o acesso que os cães tem a elas.
Esse é o primeiro passo (o mais difícil e o mais importante) para o treino sem o uso de corretivos: controlar os reforçadores que os cães obtêm.
ESQUILO! |
O grande erro na hora de iniciar um treino com distrações é, justamente, não ter o controle sobre como o cão poderá interagir com elas. A questão não é proibir que o cão faça as atividades mas, sim, faça de forma controlada e prestando atenção em seu dono.
Se você tem o controle sobre a distração, pode começar a treinar o comportamento de forma progressiva. Sempre começando com um exercício bem simples e evoluindo progressivamente.
Premack em ação
Quando eu comecei a treinar agility no Dog World I, eu sempre soltava o Pypo assim que chegava para que ele pudesse cheirar e fazer suas necessidades. Acontece que o Pypo nunca foi o cão mais atencioso e focado do mundo, rs. E, no final das contas, eu precisava enganá-lo com um petisco para conseguir que ele voltasse.
Não demorou muito para ele aprender que ver o petisco significava ir para a caixa de transporte e perder a oportunidade de continuar cheirando. Sim, ele parou de vir mesmo se eu ficasse exibindo o petisco na fuça dele.
- Inspira -
- Expira -
Fonte |
Foi aí que eu resolvi começar a treinar usando o 'cheirar o chão e passear' como reforço. Eu já tinha lido várias vezes sobre o assunto mas nunca tinha colocado em prática. Só que eu já não tinha mais muitas outras alternativas, rs.
O Pypo já tinha aprendido que não poderia me ouvir e obedecer senão coisas ruins aconteceriam (tipo ficar preso na caixa do tédio). Como mudar isso?
A primeira coisa que fiz foi mudar a maneira como eu entrava na escola porque eu ainda tinha controle nessa situação. Assim que chegávamos no portão, eu passei a pedir para o Pypo sentar e olhar para mim. Assim que ele o fazia, eu abria o portão. Se ele saísse do senta, eu fechava o portão. Ele deveria permanecer sentado e olhando para mim até que eu liberasse com "ok, vai passear".
Como ele tinha medo de ser chamado para a caixa, eu comecei esse treino bem longe da barraca onde ficam as caixas de transporte. Ele não viria se eu chamasse, mesmo estando longe da barraca, então eu passei a jogar pedaços de salsicha na direção dele sempre que ele olhava para mim ou vinha na minha direção. Assim que ele comia, eu dava o comando para ele ir passear de novo.
Logo, ele passou a buscar mais e mais a minha atenção. E só aí eu passei a chamá-lo. Quando eu voltei a chamá-lo, ele passou a me evitar mais do que quando eu simplesmente esperava ele vir sem chamar. Na época, eu achei isso super irritante, ficava brava com essa "teimosia" dele. Mas com tudo que eu já falei, dá para entender porque ele relacionou o comando com algo que ele deveria evitar, não é? Eu demorei um tempo para me tocar disso.
Passeiozinho no mato. Dory solta e Pypo na guia. |
Nesse momento do treino, toda vez que ele vinha até mim quando chamado, eu recompensava com o petisco e dava o comando "passear" para que ele continuasse cheirando por aí. Ele ainda tinha bastante receio que eu o prendesse então ele ia embora feliz da vida.
E assim a coisa seguiu. Até o dia de hoje, em que eu posso chamá-lo, pedir alguns comandos e liberá-lo para cheirar. O mais lindo é que hoje ele sempre cheira prestando atenção em mim esperando uma oportunidade para brincar esse nosso jogo.
Hoje, eu sei que eu poderia ter acelerado nosso processo deixando que o Pypo cheirasse em um ambiente menor e que ficasse entediante mais rápido. Ficaria mais fácil de controlar a situação e ensiná-lo a prestar atenção em mim. Mas báh, vivendo e aprendendo :)
Boa continuação do post anterior! Um exemplo legal e detalhado, como a gente gosta. =P
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