21.5.12

Mudanças pelo tempo - Pequinês

Estamos sem tempo algum aqui no Cão Preto, então ficarei devendo alguns posts para vocês! Enquanto isso, deixo fotos que ilustram e me poupam das palavras. Podem clicar para ampliá-las.


Antes:
1850 - quadro de Percival Leonard Rosseau
1899 - cães do canil Goodwood
 E um lindo vídeo.




E depois:

Palacegarden Malachy - Best in Show na Westminster 2012
Vídeo de Malachy

Palacegarden Bianca - cadela que não passou nos exames
de saúde para receber o Melhor da Raça no Crufts 2012

E para aqueles que gostam de palavras (e tragédias), podem conferir um post recente sobre o Pequinês no blog do Segredos do Pedigree: Pekes - is this really true?

15.5.12

Os perigos do invisível


Recentemente, eu comecei a me envolver mais ativamente em debates relacionados a cinofilia. Provavelmente por estar tanto tempo longe desses debates, eu fui pega de surpresa por como as coisas que eu disse foram recebidas com desconforto. A reação das pessoas me levou a pensar melhor o que na minha posição causou tanto desconforto; o bom dos debates é que te instigam a refletir. Será que eu estava enxergando além do que deveria ou será que não consegui me expressar bem?

A reflexão me permitiu ver algumas coisas mais claramente. Hoje, tentarei explicar melhor minha posição. Espero conseguir mostrar porque eu acredito que as coisas estão bem mais sérias do que parecem. A minha posição, no entanto, é bem simples e pode ser resumida em uma frase:


"As coisas que você não pode ver são mais importantes que as coisas que você pode ver"


Essa frase era a idéia central de Dan Belkin, criador de Salukis de caça, ao discutir sobre estrutura. Mas ela também pode ser aplicada a muitas áreas da cinofilia.


Belkin possuía um exemplo clássico, simples e muito interessante. Ele dizia: "o padrão do Saluki diz que o cão deve possuir 'olhos de escuros à cor de avelã, brilhantes, grandes e ovais, mas não proeminentes', mas não diz se o Saluki deve conseguir enxergar". Obviamente, Belkin não se referia a Salukis cegos. Os olhos são órgãos bastante complexos e o "espectro da visão" não se resume a enxergar ou não enxergar. Para cães que caçam a partir desse sentido isso é especialmente importante.

O criador exemplificava com o caso de uma fêmea que conseguia ver lebres que estavam a mais de 300 metros de distância. Todos seus outros Salukis nem se davam conta da presa. Como seria possível avaliar a capacidade funcional desses animais fora da situação de caça? E isso se estende para todas as características descritas nos padrões de raça.



Mas a estrutura não é a única área em que "as coisas que você não pode ver são mais importantes". Na verdade, quando li essa frase pela primeira vez, achei que Belkin estaria se referindo a genética
.


Não é difícil entender porque a genética depende imensamente de coisas que não podemos ver e porque essas coisas são tão importantes. A maior parte das características de nossos cães dependem de genes que não conseguimos isolar, ou ainda, mesmo que tenhamos isolado esse gene, podemos não compreender como ele interage com o resto do genoma.



Será que a cinofilia está pronta para permitir que a
ciência ajude a superar sua cegueira?
Mas não estamos completamente no escuro. Os conhecimentos disponíveis em genética nos permitem avaliar a criação de cães com muito mais cuidado para que, no fim, não acabemos dando um tiro no próprio pé.


Quando penso em criação de cães, temo que os criadores não estejam levando a sério aquilo que não podem ver. Hoje, somos capazes de ver as consequências das criações que cometeram o mesmo erro, mas muitas dessas criações estavam, de fato, desafiando a escuridão. Talvez ainda não possamos ver tudo claramente, mas podemos ser míopes mais preparados.




A ciência deveria ser recebida como uma ferramenta pelos criadores, um par de óculos que permitisse, progressivamente, descobrir o que é que estamos fazendo.

Em todas as esferas do desenvolvimento humano já houveram práticas que foram tão celebradas, que não pareciam poder ser superadas. A roda, a penicilina, a escravidão. Mas a verdade é que nosso constante desenvolvimento condena essas mesmas práticas à obsolescência. O progresso não promete apenas bons frutos, mas não podemos deixar de caminhar em frente. O futuro trará coisas muito importantes, mas que ainda não somos capazes de ver.
 





"Não considere nenhuma prática como imutável. Mude e esteja pronto a mudar novamente. Não aceite verdade eterna. Experimente" (B. F. Skinner)

12.5.12

Punição - o que é?

Se você é leitor do blog há algum tempo, sabe que eu não sou a maior fã de treino com correções físicas ou verbais. Tenho vários motivos para isso. Pensando historicamente, o primeiro motivo que me levou a retirar as punições do treino com os meus cães foi o enorme insucesso que eu tive com técnicas que se baseavam em correções ou controle aversivo. O meu primeiro cão, o Pypo, não gostava de outros cães e tinha tendências a agressividade. Graças a minha ignorância na época e a muitas e muitas sessões recheadas de punições, as tendências deixaram de ser tendências e passaram a ser exibições incontroláveis de agressividade. Chegou ao ponto de ele ver uma sacola a 500 metros de distância, achar que era um cachorro e começar a "surtar". Não era bonito de se ver. Nem de viver.

Obviamente, não podemos julgar um método pela sua má aplicação, isso vale tanto para os treinos com punições quanto para os treinos com reforçamento positivo. E com toda a certeza eu fazia uma péssima aplicação das punições.

No entanto, esse foi só o primeiro motivo que me levou a parar com as correções no meu treino. Com o tempo, consegui formular diversas razões práticas de por que não devemos treinar nossos cães com tais ferramentas. Mas, primeiro, tenho que esclarecer: o que é punição?


Definir punição não é algo simples de se fazer, como foi para definir o reforço positivo, por exemplo. Isso porque o reforço é definido por seus efeitos, mas a punição possui efeitos tão variados e imprevisíveis que fica muito difícil criar uma definição prática. O psicólogo B. F. Skinner acabou por definir punição como adição de estímulos aversivos (adição: logo chamamos de punição positiva) ou retirada de um estímulo apetitivo ou "prazeroso" (retirada: logo chamamos de punição negativa). Mas e seus efeitos?

O efeito mais conhecido da punição são as respostas emocionais. Quando somos punidos sentimos medo, ansiedade e, com o tempo, raiva. Punições geram respostas emocionais desagradáveis para o punido. Só aqui já temos razão o bastante para não utilizarmos tais práticas no adestramento. O treino e a vida não deveriam ser experienciadas com medo pelos nossos cães.

Mas, claramente, não paramos por aqui. O outro efeito da punição é o chamado contracontrole. O contracontrole é o nome dado aos comportamentos que o punido emite para evitar a punição. O grande problema é que é muito difícil prever como o punido irá "contracontrolar".

Pensem na seguinte situação: temos um filhote que acabou de chegar ao seu novo lar. Em dado momento, o cãozinho faz xixi em cima do tapete e o seu dono vem e briga com ele, faz os "Shh-Shh", "Ei, não!" e dá uns empurrões e tapinhas no filhote. Aquela rotina de sempre. O que o dono ensinou para o filhote? Que ele não pode fazer xixi no tapete? Que ele não pode fazer xixi quando o dono está presente? Que ele deve fazer o xixi no jornal? A última é a única que ele com certeza não ensinou.

Existem dois prolemas nessa situação. O primeiro é bastante lógico. Quando punimos um cão, ou uma pessoa, não estamos ensinando o que o cão (ou pessoa) deve fazer e sim o que não deve fazer. Como o cão saberá o que fazer na próxima situação? Ele não saberá. Isso só contribuirá para respostas emocionais como ansiedade.

Como colocar coleira de pinos para
funcionar,  ou seja, para machucar
O segundo problema é que não podemos predizer como o cão irá contracontrolar e esses comportamentos de contracontrole podem ser bastante ineficientes para o treino. O exemplo do xixi é bem claro nesse aspecto. Se punimos o cão quando ele faz xixi, ele pode simplesmente esperar que não estejamos no cômodo para poder fazer xixi. Agora você tem um cão que mancha os tapetes e que você não pode corrigir.

Mas os comportamentos de contracontrole podem não ser tão simples ou fáceis de lidar. O Pypo, por exemplo, ficou mais agressivo, mais ansioso e mais medroso. Já a Dory sempre foi muito sensível a punições que para outros cães seriam bem leves ou imperceptíveis. A forma mais comum de contracontrole da Dory era, e ainda é, fugir do trabalho, se afastar do agente punidor ou da situação que causa desconforto e se mandar. Como ensinar por punições um cão que simplesmente foge? Sei que existem meios, mas eu temo só de pensar.

Sendo assim, cientificamente falando, não faz sentido treinar um cão através de punições se existem outras alternativas (e eu já mostrei em outros posts que essas alternativas existem).

Em um próximo post vou explicar porque misturar metodologias (treino com reforço positivo e com punição) ainda é um mau negócio e bem menos efetivo que treinar apenas com  reforço positivo.



Dica: quem quiser estudar mais sobre o assunto, procure o livro "Coerção e suas implicações" de Murray Sidman. Um clássico e que trata todos os aspectos do assunto.

8.5.12

Compreendendo a importância da variabilidade genética dentro de uma população

O blog do Cão Preto recebeu uma visita muito especial hoje! Com a nova empreitada em meio a assuntos de cinofilia e criação, eu conversei com o amigo Thiago Mendes, biólogo e criador de Schipps, para me ajudar a discutir esses assuntos por aqui. Hoje publicamos o primeiro texto do Thiago no Cão Preto. Aproveitem! O Thiago está só começando, rs.


Compreendendo a importância da variabilidade genética dentro de uma população



A maioria das pessoas quando pensam em genética se lembram do Aa, dos experimentos de Mendel com suas ervilhas, muitos pensam que genética é basicamente isto, para cada característica temos dois fatores sendo um dominante e um recessivo. Outros que tem uma visão mais biotecnológica pensam nas mutações, transgenias, identificação de genes; parece tudo mágico, simples e que vai solucionar todos os problemas. Bom, vamos desmistificar um pouco as coisas.




Primeiro, termos importantes:

Genótipo – características contidas nos genes, referente a um locus ou mais.
Fenótipo – expressão do genótipo com ou sem influência do meio ambiente, pode ser uma característica ou conjunto de características. O meio pode alterar o fenótipo, mas não pode alterar o genótipo. Ao observar o fenótipo observamos de forma indireta o genótipo.
Dominante – gene que sempre passa sua característica.
Recessivo – gene que não se expressa na presença de um dominante.
Codominante – gene que se expressa junto com um dominante.
Mutação – alteração na informação genética. Pode ser uma troca de nucleotídeo, uma deleção ou uma inserção de nucleotídeo. Raramente uma mutação leva a expressão de caractere já existente no grupo.
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Locus – local do gene em um cromossomo.
Alelos – tipos de genes para cada locus.


A variabilidade genética e sua importância

A grande maioria dos loci (plural para locus) não possuem apenas 2 alelos e sim muitos; o mais correto seria pensar em possíveis genes para um locus assim: A1, A2, A3, A4, ... a1, a2... . A relação destes genes pode ser de dominância, codominância, recessividade, interação, supressão e outras. O nome dado para um locus depende diretamente do estudo, pode ser qualquer letra, não existe uma regra, o único padrão é que a característica dominante vai ser com letra maiúscula e recessiva com letra minúscula.

A maioria dos mamíferos são diplóides (2n), isto é, possuem 2 conjuntos de cromossomos (com exceção dos sexuais X e Y), um conjunto veio da pai e o outro conjunto da mãe, logo possuem 2 de cada tipo de cromossomo (fita de DNA: um par de cada). São nos cromossomos que encontramos os locus, portanto para estudar uma característica temos que pensar pelo menos em 2 genes.

Pensando nisso, vamos analisar a importância da variabilidade para evitar a expressão de alterações relacionadas a genes recessivos. Considerando um locus com apenas 5 possíveis alelos teremos 15 possíveis genótipos (A1A1, A1A2, A1A3...), supondo que um alelo recessivo cause uma doença (a) a chance da expressão deste gene em uma população estável será muito pequena pois a chance de nascer um aa é baixa, 8,3%, seria necessário cruzar dois portadores do gene (A1a, A3a por exemplo) para que isto ocorresse e mesmo assim a probabilidade seria de 1/4. Para manter esta variabilidade neste locus é necessário manter o fluxo gênico dentro da população, para isso não é interessante repetir muitas vezes o mesmo cruzamento, muito menos cruzar indivíduos com grande proximidade de parentesco, estes cruzamentos levam a perda de alelos na população e com isto aumenta as chances de expressão de genes recessivos.

Perder alelos dominantes em uma população é fácil, eliminar um alelo recessivo, por outro lado, é muito difícil. Basta observar o gene para albinismo que é uma mutação muito antiga do ponto de vista evolutivo e que continua presente nas populações, mesmo quase sempre sendo selecionada negativamente.

É importante considerar a variabilidade porque ao se perder apenas dois alelos para o caso acima restarão apenas 6 genótipos possíveis e com isto a chance de expressão do gene recessivo aumentou em 300%, passou a ser de 25% na população. Temos que pensar nisso para vários loci e não só para um, existem várias doenças recessivas que em populações estáveis raramente se expressariam.

Uma pessoa que gosta de biotecnologia poderia dizer assim: “Bom, mas com o uso de um marcador por técnica fish não poderíamos detectar o gene causador da doença? Isto não resolveria o problema?” A resposta seria ‘sim’, ‘não’ e ‘não é tão simples assim’. Em primeiro lugar precisamos da sequência complementar a que se busca, para algumas doenças temos, para muitas outras não. Segundo problema é que a identificação não significa eliminação da característica. Eliminar de uma população um gene recessivo é muito difícil, praticamente impossível. Os portadores do gene que possuírem também um dominante junto não vão expressar a característica, os filhotes deste também podem não expressar, seria necessário fazer o teste em todos os indivíduos da população e eliminar da criação todos os portadores, isto é uma tarefa monumental e praticamente impossível.

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Pensem nisso em todas as possíveis doenças. Manter a variabilidade genética é a forma mais eficiente de controlar a expressão e de custo muito mais baixo. Temos que avaliar também que existem muitos genes supressores de expressão, a variabilidade genética permite a manutenção destes genes supressores, logo um indivíduo homozigoto de um gene causador de doença nem sempre vai ter a doença, pois o gene inibidor pode impedir a expressão da característica.

Existe um conceito em dinâmica de populações que é extinção genética, isto ocorre quando um grupo de seres vivos fica com um número tão restrito de variantes gênicas que tenderá a desaparecer. Para mamíferos o número mínimo de indivíduos está próximo a 250 variantes em meio natural e 50 em meio artificial tomando os cuidados para manutenção da variabilidade.

Um exemplo disso é o mico-leão-dourado. A espécie ficou com um número tão reduzido que se o homem não intervisse no fluxo gênico a espécie se tornaria extinta, mesmo que mais nenhum outro espécime fosse retirado do meio ambiente, pois os cruzamentos consanguíneos começaram a ser frequentes e variantes genéticas seriam perdidas pelos grupos levando a extinção genética e presencial futura. O homem interviu de forma direta nisso, migrando espécimes entre as áreas de preservação, fazendo alguns cruzamentos específicos em cativeiro e reintroduzindo ao meio natural. Atualmente a espécie está estável geneticamente.

Para quem quer uma fundamentação mais profunda e teórica sobre o assunto, busque um bom livro de genética aplicada a dinâmica de populações, tem tudo isso e muito mais.

E o que tem isso a ver com cães?

Pensem nisso ao se analisar qualquer criação e ao escolher um animal de estimação. Em cães o negócio está feio. Muitos criadores não tem a menor noção disso. Muitos acreditam que “homogeneizar” a criação com cruzamentos consanguíneos é o caminho correto a ser seguido, isso está levando as raças a perder a variabilidade e a ter “doenças típicas”. Algumas raças estão tão restritas geneticamente que logo mais poderão ser consideradas extintas geneticamente (se nada for feito), isto é um absurdo. Um bom cão de raça não tem “doenças típicas”, um bom cão de raça é saudável e a manutenção da variabilidade é o caminho para fazer isso. Usar os termos em inglês (inbreeding ou linebreeding) não muda o conceito e seus efeitos.

Bom, esses são apenas alguns pontos a serem avaliados em relação à importância da variabilidade genética, outro dia continuo...


Thiago Mendes
Biólogo e criador da raça Schipperke

Você sabe ler emoções caninas? - parte 2

Faz tempo que não conversamos sobre comportamento aqui no Cão Preto. Tsc tsc tsc! 

Por isso, hoje vou lançar o segundo desafio do "você sabe ler emoções caninas?". A estrela da vez é a minha baixinha preta, a Dory! O click é do Guilherme Trevisani.

Fiquei pensando se deveria dar a situação em que a foto foi tirada ou não. Decidi que não, só para aumentar o desafio! Mua-ha-ha. Tentem adivinhar a situação pelo que ela está mostrando, mas o mais importante mesmo é tentar identificar como ela está se sentindo.


Aprender a identificar as emoções que a Dory está exibindo nessa foto me permitiram mudar drasticamente todo o treino dela. Puãtz, acho que isso já foi dica demais.

Vamos lá, sua vez!

4.5.12

a beleza da vida


Para ligar a legenda, clique no botão CC no vídeo e
 selecione Português


Quando eu vejo esse vídeo, se apodera de mim um sentimento que eu não aprendi a descrever. Se isso não é lindo, eu não sei o quê é.