24.3.12

O corpo funcional - parte 1

Enquanto eu não arrumo os vídeos das minhas desqualificações nas pistas do Américas e Caribe, vou seguir discutindo assuntos aleatórios e importante aqui no blog. :)




Um dos meus tópicos favoritos para discussão dentro da cinofilia é: criação de cães. Trata-se de um tema extremamente polêmico e que costuma deixar as pessoas nervosas (inclusive eu) porque as divergências nesse âmbito são inúmeras. Criar para saúde? Para temperamento? Para estrutura? Tudo? Nada? O que é saúde? O que é temperamento? Enfim... 


Pastor Alemão: uma dos alvos favoritos para os críticos
das criações de exposição
Hoje, deixarei a maior parte dessa discussão de lado e me focarei em um tópico específico que me encanta, mas que é o terror daqueles que dizem querer criar cães funcionais e para trabalho: a estrutura.


Teoricamente, estudar estrutura significa tentar identificar, no conjunto da obra, quais características físicas facilitam ou prejudicam a função específica do cão e selecionar tais características na criação. A idéia é que o cão com o melhor temperamento do mundo não pode executar o seu trabalho adequadamente sem um corpo que facilite a tarefa. E o contrário também é verdadeiro, um cão com o corpo perfeito não pode ser um bom trabalhador se possuir um temperamento problemático ou pouca saúde.


Logo nesse primeiro momento, já podemos analisar uma falha lógica seríssima na criação de cães visando principalmente uma melhora estrutural. Não adianta nada criar um cão com um corpo adequado que não possua outras características vitais para o trabalho. 
Historicamente, a criação de cães tipo show começou com o pé errado por causa dessa suposição extremamente incoerente, a de que era possível criar um cão mais adequado para o trabalho apenas selecionando a conformação. É claro que é bem possível (e mais coerente) que essa seja a justificativa para esse tipo de criação e não o seu real objetivo.


Mas aí, encontramos um segundo impasse. Quais características físicas são desejáveis e quais não são? Para debater essa questão, deixarei um desafio a todos. Abaixo estão três fotos de três poodles standard diferentes (poodle 1, 2 e 3), assim como uma breve descrição (A, B e C) do tipo de movimentação dos cães especialmente durante a prática de agility. Não vou citar a fonte desse material por enquanto pra ninguém conseguir roubar, rsrs.



E aí, me digam vocês! Qual descrição corresponde a cada cão?






Poodle 1
Poodle 2


Poodle 3





A. Esse cão foi o poodle standard mais premiado no agility americano por dois anos. Ela frequentemente consegue bater Border Collies e se qualifica para as seletivas para o Mundial de agility todo ano. Ela consegue fazer curvas tão curtas e tão rápidas quanto qualquer outro cão no agility. Ela tem pouca velocidade ao correr mas compensa com sua grande habilidade em saltos. Ela também consegue acelerar muito rapidamente. Se o percurso for cheio de curvas, ela vai muito bem. Se o percurso é longo com muita corrida e espaço entre os obstáculos, ela será bem mais lenta devido a sua falta de velocidade.
Ela é uma nadadora muito boa, mas não é a nossa mais poderosa, no entanto, ela é um cão de caça ("game dog") e tentará de tudo. Ela busca muito bem.





B. Esse cão salta em excesso, pula muito antes e joga suas patas anteriores acima de sua cabeça ao saltar. Quando está correndo solta com outros cães, ela é incapaz de abaixar seu centro de gravidade, mesmo que só um pouco. Ela não consegue fazer curvas e é nossa poodle mais lenta. Ela é terrivelmente desajeitada. Sua pernas traseiras ficam muito atrás de seu corpo quando ela corre e assim, ela tem pouquíssima força nos posteriores. Ela não consegue nadar nem para salvar sua vida. Ela afunda como uma pedra e, apesar de termos tentado de tudo para ajudá-la a aprender, ela simplesmente não consegue nadar. Ela se movimenta mal e tem dificuldade de colocar seus posteriores abaixo de seu corpo, então sentar é bem dificil para ela. Ela mal consegue se abaixar para fazer xixi.




C. Esse cão é o mais rápido de todos mas tem problemas para fazer curvas e não consegue abaixar seu centro de gravidade com facilidade. Ela salta melhor que todos e é a mais atlética dos 4, mas não é a mais rápida no agility pela sua dificuldade de fazer curvas. Ela também pisa em falso quando corre e quando faz o slalom, o que é ineficiente. Isso não a deixa mais devagar no chão, mas a atrapalha no slalom. Ela é nossa melhor nadadora e a mais rápida, ama buscar o que quer que seja, independente da temperatura ou do lugar.


20.3.12

Pequena homenagem - Cesar Ades

Durante a semana passada enquanto eu estava a caminho do AyC, faleceu o professor César Ades. César foi diretor do Instituto de Psicologia e do Instituto de Estudos Avançados da USP, além de ser um dos maiores pesquisadores em Etologia (vulgo comportamento animal) que o Brasil já teve. 

Foi uma grande honra poder conhecê-lo. O amor que ele tinha pelo que fazia era muito bonito e inspirador de ser ver, sempre o lembrarei por isso. É difícil não se chocar com a perda de alguém que irradia tanta alegria.

Fica aqui uma pequena homenagem.

César durante a matrícula dos bixos de 2012


“Many that live deserve death. And some that die deserve life. Can you give it to them? Then do not be too eager to deal out death in judgement. For even the very wise cannot see all ends.” —J. R. R. Tolkien (Gandalf the Grey)