Semanas atrás, eu tive uma aula sobre Psicologia Clínica que só me remetia ao blog o tempo inteiro. Queria escrever um texto aqui mas com as complicações da vida cotidiana, não consegui. Hoje algo me trouxe de volta a esse assunto.
O tema da aula era: o que é o sofrimento na clínica psicológica?
Em posts anteriores, eu discuti como as punições podem produzir diversas respostas emocionais nos nossos cães e causar sofrimento. Mas será que isso é sempre verdade?
Não, não é. :)
Isso não significa que menti para vocês. A verdade é que toda e qualquer forma de punição é desagradável e produz respostas emocionais compatíveis. No entanto, isso não significa que levará o cão ou a pessoa a viverem grande sofrimento.
Eu nunca fui a terapia para falar sobre a topada na porta que eu dei com o dedinho do pé. E eu sempre faço isso e é sempre mega desagradável. E eu também não falo sobre as buzinadas (e palavrões adjacentes) que eu recebo no trânsito quando fecho alguém sem querer e, na boa, eu sempre fico muito triste quando isso acontece. Não sei porque, ainda mais no trânsito paulista, mas eu fico.
Por mais que toda punição cause desconforto, não necessariamente isso levará a um grande sofrimento. E ninguém vai a terapia para falar sobre como é feliz ou sobre desconfortos. As pessoas vão a terapia para falar de sofrimentos, de sentimentos ruins que as acompanham a todo momento ou invadem áreas da vida que antes não eram ansiogênicas.
Mas por que eu estou falando de tudo isso?
Os sofrimentos são gerados, não simplesmente por punições, mas por conflitos.
Quando eu dou uma topada na porta, não existe nada que me faça querer dar outra topada. Eu simplesmente pego a minha dor e tento ser mais coordenada. Não existe conflito algum. Mas quando eu brigo com
alguém que eu gosto muito... Por um lado, eu estou com raiva e quero ser
agressiva, mas por outro, deixar essa pessoa triste, me deixa triste... mas
então por que eu continuo brigando com ela? Por que ás vezes fazemos coisas que
nos fazem sentir mal?
Mas quem nunca viveu o sofrimento de não se sentir aceito pelo que é? Estar acima do peso, não ser descolado ou gostar de pessoas do mesmo sexo. Afinal, se não ser aceito me deixa tão triste porque eu não faço o que é preciso para ser aceito? Antes fosse simples assim. Ah, se a vida fosse apenas topadas na porta. Não é?
Os conflitos geram tanta dor porque nos fazem escolher entre sair perdendo e sair perdendo menos. Não há saída que nos permita evitar completamente sofrimentos futuros. Isso é uma m*rd@.
Mas por que eu estou falando de tudo isso? (2)
Em todos os posts desse blog em que eu defendi o treino de cães sem o uso de correções ou punições, eu não o fiz porque punições são coisas do demônio ou são politicamente incorretas. A gente sempre vai dar topadas na porta, faz parte. Mas eu defendo o treino sem correções porque eu não desejo um treino gerador de conflitos.
Quando falamos de desvios de comportamentos, isso se torna ainda mais importante. Quando nossos cães fazem algo de errado com frequência, eles o fazem por um motivo. Não porque são pentelhos, maus ou bravos, mas porque algo faz desse comportamento a melhor opção para eles. Ou a opção menos pior. Algo está sustentando esse comportamento e, o quer que seja, se colocará no caminho da punição que eu usar para interromper esse comportamento. Nesse ponto, meu cão terá de escolher qual é a melhor opção ou qual a menos pior...
Meu cão preto, por exemplo, é agressivo com outros cães no passeio. Tenho plena certeza de que sua agressividade é causada por medo. Para ele, avançar em outros cães ajuda a lidar com esse medo. No começo da nossa relação, quando ele ainda era filhote, eu fui aconselhada a puni-lo toda vez que emitisse comportamentos agressivos. O principal efeito desse treino foi: aumentar ainda mais seu medo de outros cães. Afinal, quando ele via outros cães, ele não devia só teme-los, como devia temer a mim também.
Não nego que talvez alguém experiente com esse tipo de treino pudesse ter sido mais bem sucedida do que eu fui, talvez pudesse mesmo. Mas esse treino nada faria para diminuir o medo que o Pypo sentia de outros cães, mas sim, para fazer com que a minha punição vencesse esse conflito. Ou seja, o objetivo final seria que ele conseguisse engolir o desconforto causado por outros cães para evitar minhas broncas.
Além de não fazer nada a respeito da principal problemática do meu cão, esse tipo de treino colocou uma pedra na nossa relação que até hoje eu tento tirar.
Por isso, ao cogitar o uso de punições, olhe ao redor de seu cão e não para ele. As causas do comportamento não estão nele. Não adianta corrigi-lo como se ele fizesse isso por ser folgado, dominante ou malvado. É o ambiente que diz ao seu cão como deve agir. Sendo assim, aja sobre esse ambiente.
Desfaça conflitos, não os crie!
Desfaça conflitos, não os crie!
Lembre-se: seu cão não tem a opção de ir à terapia :)
Lendo seu texto, muito bom por sinal, cheguei à conclusão que o que eu pensava a respeito faz todo sentido! Ver o pq do comportamento! Muitas pessoas dizem que o cachorro sabia que estava agindo errado e só faz tal coisa pra provocar. E é exatamente isso! Quando um certo comportamento chama a atenção do dono, com certeza será repetido. Não quer dizer que o cão saiba que o comportamento é indesejável ou irritante. É isso aí!
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