31.1.13

Pensando sobre frustração

Podemos aprender a ensinar melhor se prestarmos atenção a nossas próprias dificuldades durante um aprendizado.


***


Nesse período de férias resolvi aprender um novo esporte. Melhor gastar o tempo ocioso com atividades físicas, é o que dizem. Só pra efeito de curiosidade, o esporte escolhido foi o tênis.


Tem sido uma experiência divertida especialmente pela facilidade com que fui aprendendo os movimentos básicos. Isso nunca tinha acontecido antes, rs.

Hoje, foi diferente. Antes da minha oitava aula, procurei todas as desculpas plausíveis para poder faltar. Sem nenhuma em mão, eu fui pra aula. Mas o simples fato de que eu tentei escapar não podia ser ignorado (não por mim, pelo menos) e eu passei todos os 50 minutos da aula tentando entender o por quê dele. 

Achar o por quê não foi difícil. Visto que foi, de longe, uma aula extremamente frustrante. Tentar descobrir porque, em tão pouco tempo, o esporte deixou de ser divertido e fácil para se tornar frustrante e estressante, foi um pouco mais difícil, mas eu consegui.

O mais irritante de tudo era o fato de que eu simplesmente não conseguia acertar por muitas tentativas. A taxa de acerto beirava os 50% se eu deixasse o critério beeeem frouxo. Não fazia questão que a bolinha caísse dentro da quadra, desde que eu acertasse o movimento... nem isso estava funcionando. Mas o que aconteceu pra, de repente, eu estar indo super bem e cair tanto?

Eu bolei uma hipótese.

Nas aulas anteriores eu estava acertando super bem os movimentos, de direita e esquerda. Mas, obviamente, a dificuldade dessas jogadas não eram muito altas. O professor sempre mandava as bolas com a mesma velocidade e fazia elas caírem aproximadamente no mesmo local, só variava os lados. Eu acertava a grande maioria.

Nas duas últimas aulas, os locais em que ele jogava a bolinha começaram a variar muito. Bolas longas, curtas, eu não podia prever o lado que ele iria jogar, etc. Toda minha habilidade desmoronou. Eu não conseguia mais acertar os movimentos. Toda técnica e precisão que eu tinha adquirido, se perderam num instante.

E o que é pior, eu perdi a motivação e a vontade de jogar.

***


O objetivo desse post não é contar a minha trajetória dentro do tênis, mas sim, dividir com vocês algo da minha experiência que é muito importante lembrarmos quando formos ensinar qualquer habilidade seja a um aluno humano ou canino.

Durante o "shaping" do meu comportamento, o professor optou por estratégias de treino que não contribuíram para a minha aprendizagem e diminuíram a minha motivação em relação ao esporte. Foram elas: 

1- aumentar a dificuldade de forma muito brusca, de modo que eu não tinha altas chances de acertar e ser reforçada

2- insistir no nível de dificuldade e não voltar um pouco atrás e nem revezar entre bolas difíceis e fáceis para que eu pudesse continuar sendo reforçada.



E ao fim de 50 minutos, eu não tinha a menor vontade de fazer uma próxima aula.

Lembrem de mim quando forem treinar seus cães.

Se seu cão aprendeu a fazer um novo obstáculo, por exemplo, não o jogue direto em uma sequência longa, cresça a dificuldade aos poucos. Será mais educativo e menos frustrante.

Se seu cão aprendeu a fazer o "2on2off" enquanto você corre ao lado dele, não espere logo de cara que ele acerte com você disparando na frente ou ficando para trás. Cresça a dificuldade aos poucos.

Errar não deve ser um problema. Meu professor não briga comigo quando eu erro, e nem eu comigo mesma, simplesmente espero a próxima bola e tento acertar. Mas é importante que criemos situações em que nossos cães tenham uma chance real de acertar. Assim como é importante que meu professor faça isso por mim porque, honestamente, ninguém consegue aguentar uma sessão inteira só de erros. Nem eu, nem nossos cães.

8 comentários:

  1. Excelente carol! Bom as vezes a gente pensar em comoo cão se sente durante o treino :))

    ResponderExcluir
  2. Texto maravilhoso,Carol! Certeza de que vai tocar muita gente! Parabéns!!!

    ResponderExcluir
  3. Adorei, Carol!! E isso só me fez ver que estou sendo bem assessorada na academia. =)
    E é exatamente isso que faço com a Sau. Sempre voltando quando percebemos que ela não sacou como esperávamos. Eu mesma, quando o Giovanni vê que não vai rolar, manda eu fazer o mais básico com a Sauza. E fizemos isso com Cocota. Sempre voltando ou alternando.
    Bom saber que estamos no caminho correto.
    Agora, uma brincadeirinha... Sentiu saudades do seminário da Polona quando bancou a doguinha? *rs*


    ResponderExcluir
  4. incrível como você consegue mudar uma situação aparentemente tão diferente para algo tão real no nosso dia a dia de treino com cães! muito verdade o que você falou!! é importante que alguém mostre exemplos como o seu para que todos possam entender e parar de culpar o cão por tudo, e muuitas vezes em situações que a culpa nem é deles... é importante sim aumentar a dificuldade dos treinos, pois todos temos que evoluir, mas de forma gradual! não da para você ensinar as letras a um bebê e pedir para ele falar otorrinolaringologista!
    como sempre amei o post =D

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. HAHAHA!!! Adorei "não dá para você ensinar as letras a um bebê e pedir para ele falar otorrinolaringologista!" MUITO BOM!!

      Excluir
    2. hahahaha ne verdade?! XD

      Excluir
  5. Amei o post! Muito legal como vc conseguiu fazer essa ligação entre a sua situação e o aprendizado dos cães. Não importa se estamos falando de animais ou de seres humanos, todos precisam ser devidamente estimulados e recompensados para realizar um trabalho bem feito e de maneira prazerosa :)

    ResponderExcluir
  6. Adorei seu Blog! Parabéns!
    Pena que o que aconteceu com vc nas aulas de Tênis seja tão comum em vários esportes desmotivando milhares de novos alunos...

    ResponderExcluir

Área livre para resmungos. A gente até libera, mas odeia anônimos.