5.2.12

o perigo dos rótulos

Hoje eu vim dividir uma história mais pessoal, mas como a vida é nossa melhor professora, talvez esse seja o melhor tipo de história para se dividir.


As dificuldades que eu tive de superar e continuo tentando superar todos os dias com o Pypo não estão escritas. Dá para falar sobre isso interminavelmente, MAS, eu tento não me apegar também.
Para superar uma dificuldade, nada pode ser pior do que se apegar a ela.

Faz uns 4 anos, eu li uma frase na internet, de uma adestradora que eu mal conhecia e que hoje se tornou um dos meus maiores ídolos. A frase é da Susan Garrett. Mas - calma aí - a frase não é feliz, nem evoca boas emoções, pelo contrário. Essa maldita dessa frase me assombrou e me atormentou por anos a fio, eu tinha vontade de chorar ao considerar que ela pudesse ser verdadeira e tentava ao máximo me convencer de que era mentira, um exagero!

A frase é a seguinte: 



"O seu cão é um reflexo da sua habilidade como treinador de cães"



Dory: minha sheltie que "não gostava de brincar"
Foto de Nicky Leal.
Eu era apaixonada por cães e adestramento. Eu havia lido todo o material sobre educação canina que encontrei. Eu passei anos pesquisando e estudando! E mesmo assim, eu possuía um cão agressivo, medroso e que não prestava a menor atenção se houvessem distrações. Essa frase era como um soco no estômago! Um não, vários!!!

Alguns anos se passaram enquanto eu tentava me convencer de que tudo isso era um grande exagero. Meu cão era assim mesmo, ele era independente, mandão, simplesmente não gostava de outros cães, não gostava de agility e pronto! Coitada de mim que pegou um cão difícil assim como primeiro cão!

Mas, e agora? O que fazer?

Eu tinha UM cão, não poderia ter outro e eu realmente queria ter um pet agradável! Se eu não podia mudar esse cão, então nós estávamos condenados a 15 anos de uma relação instável e cheias de problemas e medos? Se meu cão não gostava de agility, eu teria de esperar até o próximo cão para poder praticar o esporte?

Pois é folks, Pypo e eu não tinhamos escolha. Era mudar ou mudar, do jeito que estava não podia continuar.

E foi aí, em algum momento nessas epifanias que eu realmente entendi o que a frase queria dizer.

É claro que existem cães mais fáceis de treinar e cães mais difíceis! Eles são indivíduos diferentes, com genes e histórias de vida diferentes, mas o quanto eles aprendem reflete a sua habilidade em treinar o tipo de cão que você tem!

Além disso, se o cão de fato é um reflexo da sua habilidade como treinador então significa que EXISTE possibilidade de mudança! Você muda e o cão também mudará.


Pathy: BC da Monica que "era
medrosa demais para agility"
Mas se fosse o contrário, se o cão simplesmente fosse independente, teimoso, chato, burro, ou qualquer um desses rótulos que nós atribuímos a eles, então o que poderíamos mudar? Nada! Nós teríamos de esperar a sorte nos presentear com um cão melhor e mais fácil! Esse tipo de rótulos só servem pra descrever (e muito mal, diga-se de passagem) um conjunto de comportamentos que nós não queremos e não gostamos.

Rótulos nos impedem de encararmos o problema pelo que ele é e nos cegam para a sua única solução: n
ós mesmos.

Não rotulem, não dêem desculpas, apenas vivam e aprendam o máximo possível com seus cães. Eles tem muito a ensinar, quando nós os damos a chance.

Hoje o post vai para todos os donos que tem dificuldades com seus cães, pequenas ou grandes. Acreditem na mudança e não se apeguem as dificuldades! Não desistam e elas serão passageiras mas muito proveitosas!



"Seja a mudança que você quer ver no mundo" (Dalai Lama)

21 comentários:

  1. Quando Sofia tinha um ano de idade, eu tinha muita dificuldade de faze-la prestar atenção em mim, também de fazer ela parar de roer tudo o que encontrava pela frente (panos, sapatos, gravetos, pedras, enfim: TUDO), e não puxar a guia nos passeios. Não sabia mais o que fazer, já tinha tentado de tudo mas nada adiantou.
    Então decidi que EU iria mudar, e ia parar de tentar fazer ELA mudar. Comecei a corrigir o meu comportamento perto dela, a ficar mais calma (eu nunca bati nela, mas eu me irritava e saia de perto) e ter paciência.
    Deu super certo, hoje ela tem 2 anos e é simplesmente P-E-R-F-E-I-T-A pra mim! Não rói mais nada, não puxa a guia, presta atenção em mim...mas não perdeu seu jeito de ser, continua brincalhona, mas sem destruir nada nem ninguém! rs Também me sinto uma pessoa melhor, aprendi a ter calma, uma coisa essencial para viver bem e feliz! =D

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    1. Nossa, precisava comentar, porque achei a história linda! Sério, parabéns!
      É muito difícil mudar esse tipo de coisa, não é? Você conseguiu, pelo visto :)

      Beijos
      Malu

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  2. Essa frase às vezes me anima, às vezes me destrói também.... rsrsrsrs

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  3. Totalmente...acho que mais me destrói! Ainda mais com a matilha selvagem aqui de casa x_X''''

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  4. Amei o seu post Carol! Já chorei muito por causa dessa frase, na verdade, ela ainda me faz chorar de vez em quando. Até porque a ouço dos meus próprios familiares quando algum dos meus cães apronta algo.
    Mas quando penso racionalmente, acho este pensamento muito injusto.
    Eu estava conversando com um dono de escola (de humanos) e ele me perguntou se meus cães eram educados. Eu disse que sim, mas que não eram perfeitos, cada um deles tem sua personalidade, com qualidades e defeitos. Aí ao longo da conversa ele me disse que exigir isso dos meus cães seria a mesma coisa de exigir que o filho dele fosse o melhor aluno da escola.
    Também não acho justo a postura da maior parte dos adestradores de culpar os donos por todos os comportamentos indesejados dos cães. Não é bem assim né...

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    1. Oi Thaíssa!

      É claro que todos os cães são diferentes e exigem tratamentos diferentes, mas todos podem mudar, assim como nós podemos ou toda criança pode. Eu consegui ensinar meus dois cães a gostarem de brincar de cabo de guerra, mesmo que esse não fosse um reforço logo de cara para eles, exigiu condicionamento. Isso mostra que tenho habilidades para lidar com cães que não gostam de brincar e ensiná-los a gostar!
      Mas ainda tenho dificuldades em contracondicionar o Pypo a gostar de outros cães, isso mostra que eu não tenho tantas habilidades nesse quesito e preciso desenvolvê-las, mas eu POSSO desenvolvê-las. É uma questão de querer e brigar por isso.
      Acho que ninguém aqui quer o cão perfeito, existem defeitos que simplesmente fazem parte, nós aceitamos (e até aprendemos a gostar!) como parte do que o nosso cão é. Isso não reflete nossos habilidades, mas sim nossas escolhas :o)

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  5. Preciso dizer algo?! Post simplesmente demais! Que revelo os nossos medos e angustias...Vc sabe beeem minha história com meus meninos... E sabe o quanto tava sendo dificil pra mim... Mas sabe? Tava sendo dificil enquanto eu dizia que era dificil. Enquanto eu falava: putz, eh dificil demais, n tem como, e assim, fica mto fácil de desistir, de deixar pra lá... Até a hora, que vc se toca: meu, se eu quero treinar, se quero trabalhar com isso, n é possivel q n tenha jeito! E ai a gente acorda... É bem por ai: seja a mudança que vc quer ver no mundo ;)

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  6. Sempre adorei a frase, nunca tinha visto ela com um tom negativo mas sim sempre como essa possibildade de mudança :)

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    1. sorte a sua Lu! kkkkk. Foram anos até eu entender o que a Susan queria dizer e parar de chorar :P

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    2. Eu to contigo, Lu. Hahaha sempre gostei dessa frase. Até porque acho que sempre soube que não me esforço o tanto que deveria :P Daí sei que a culpa é minha, mesmo - e também sei que se eu me esforçasse o quanto eu acho o mínimo, seria tudo muito melhor.

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  7. A frase está perfeita.

    Cabe a nós deixarmos de nos lamentar e nos habilitar.

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  8. Carol, só tenho uma coisa a dizer: MUITO OBRIGADA pelo post!!! Qualquer dia que nos encontrarmos novamente, te conto um pouco da minha história com a minha Border, a Malu... Começo a ver uma luz no fim do túnel... Muito obrigada, mesmo!!!
    Beijos!!!

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    1. Não desista Camila! Fico muito feliz que tenha gostado do texto!

      Aguente firme com a Malu que tudo vai se encaixar. Você vai ver, são os cães difíceis que mais nos ensinam!! :)))

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    2. Adorei o nome da Border. Hahahha :)
      E Camila - sempre há uma luz no fim do túnel. A gente só tem que saber olhar para ela :D

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  9. Sim, claro que todos podem mudar! Mas mudar quanto?!
    Eu, por exemplo, sou uma tímida. Posso até vencer a timidez em várias situações e me tornar uma pessoa menos tímida ao longo da vida (como realmente aconteceu), mas não gostaria que alguém exigisse que virasse a pessoa mais expansiva e simpática do mundo.
    Consegui me fazer entender?!

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    1. A questão é essa, "exigir". De fato, ninguém gosta de ser exigido nada e os seus sentimentos em relação a uma situação qualquer não vão mudar porque alguém está exigindo alguma coisa. Você pode até mudar seu comportamento, tentar ser mais expansiva e tudo mais, mas o que você sente em relação a isso só vai mudar se o AMBIENTE mudar. Ou seja, se a relação com aquilo que te trás angústia mudar (não a relação com um terceiro, entende?)

      Essa é uma questão um pouco mais complicada dentro da análise do comportamento, mas no fundo é isso.
      A idéia é que nunca vamos exigir algo do cão mas modificar o ambiente dele, para que ele acompanhe essa mudança.

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  10. Caaaaaaarol! Mil anos depois, surpresa lá no blog procê!!! Nos vemos sábado entoncis certo?! =D
    Beeijo!

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  11. Ammeii o texto Carol!!
    todos nos encontramos dificuldades na nossa estrada pra nos tornarmos treinadores melhores! e se fosse fácil ela não seria tão emocionante!
    é a jornada que nos torna pessoas melhores e treinadores melhores
    eu também já sofri muitas frustrações com os meus cães, mas não adianta nada se lamentar! o negócio é colocar a cachola pra pensar e mudar o nosso modo de agir e o nosso modo de encarar as dificuldades.
    Eu descobri que quanto mais nos cobrarmos pior é! penso que melhor é ir sem em frente mas no nosso ritmo
    Obrigada pelo texto! juntos é muito mais fácil de encarar as dificuldades ;]

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  12. Não aplicado ao agility, mas...

    "Para superar uma dificuldade, nada pode ser pior do que se apegar a ela."

    Foi uma das frases de maior clareza que eu vi nos últimos tempos. Reitero: fantástica.

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  13. Anna, já que vc tem "habilidades para lidar com cães que não gostam de brincar e ensiná-los a gostar", pode me dar umas dicas de como fazer isso com meu Border? rsrs

    A propósito, esse frase é muito bonita e interessante! Sem dúvidas se queremos mudar nossos cães, devemos começar com nós mesmos... Porém levando em conta o jeito e a personalidade de cada um!

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  14. Oi Taís!

    Tenho várias dicas pra dar! Um dia vou escrever um post sobre isso no blog, mas tenho outros coisas que precisam ser publicadas antes! Qualquer dia desse me chama no facebook, ou me manda um email (carolengelke@gmail.com) que eu te dou várias dicas!

    Bjs!

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